mercredi 8 octobre 2014

Brasil: as raízes da corrupção

RJ, 08.10.2013

Quando nós adotamos a maneira de pensar dos psicossociónomos[1], a cultura de um país acaba por ser  um conjunto de características que nos introduzem aos códigos sociais, aos ritos, aos símbolos e aos valores de uma sociedade.
Os psicossociónomos partem da constatação de que uma sociedade é concebida no nascimento de um país, que ela nasceu de seus pais fundadores, que ela passou por eventos marcantes, criando e amando seus heróis, tudo como aconteceria com um indivíduo.

Esses especialistas analisam uma nação como se fosse uma pessoa e assim, a noção de cultura torna-se viva e dinâmica: uma sociedade passa por etapas de desenvolvimento...ela termina a infância, atravessa uma fase em que busca por sua identidade, como se faz na adolescência, chega à maturidade e inicia seu período de declínio.
Os psicossociónomos igualmente supõem que uma sociedade teria, como uma pessoa, um inconsciente. E aqui as coisas são mais interessantes.
Nós sabemos desde Freud e Eric Berne[2] que, através da noção de Cenário de Vida, que o próprio inconsciente influencia a vida de cada um sem seu conhecimento... porque o inconsciente não deixa aproximar-se dele ou decifrá-lo facilmente. Ele se manifesta através de lapsos, de atos falhos e de sonhos...nada simples, ainda mais por ele ser cheio de energia!

O inconsciente de uma criança é impregnado por seus pais e por sua vivência durante a infância no seio de criação de sua família. Se nós fizermos uma analogia, o inconsciente de uma sociedade é impregnado pelo espírito de seus pais fundadores e por seus grandes momentos históricos. Como uma pessoa, essa sociedade teve sentimentos e emoções e adotou um certo tipo de comportamento inconsciente nascido dessas experiências.
Outra característica desse inconsciente chama-se a compulsão da repetição.
Em outros termos, nosso inconsciente irá nos impelir a reproduzir e recolocar em evidência as situações difíceis de nossa infância, na esperança absurda de resolvê-los enquanto adulto.

Nós então podemos nos perguntar a seguinte questão:
foto; Heleno costa

O que uma sociedade repete inconscientemente, proveniente do seu passado, que remonta aos seus pais fundadores?

Na Recursimo, nós pensamos sobre os eventos recentes no Brasil, onde a população não para de se manifestar ha cinco meses. A pressão da rua foi bem sucedida em impedir o aumento dos preços das passagens de ônibus. A população continua a exigir: saúde, educação e o fim da corrupção.
Vista a importância dos desvios de dinheiro público, nós podemos pensar que seria o suficiente obter uma diminuição de 80% da corrupção para ter professores, escolas, e serviços de saúde adaptados às necessidades do país.
Nós somente podemos reconhecer que o roubo sistemático, em proporções inconcebíveis, das elites corrompidas, é uma repetição da história que remonta aos fundadores do Brasil.

O Príncipe João, futuro D. João VI rei de Portugal[3], levou o tesouro do Estado português aos portos do país para salvá-lo das mãos de Napoleão, de modo a instalar o Império Português no Rio. Ao chegar, da noite pro dia, ele expulsou inúmeros cariocas de suas residências para acomodar seus doze mil cortesãos. Em seguida, ele elevou os impostos de acordo com suas necessidades. E foi assim durante trezes anos....sem deixar de ter sido amado pelo povo.
Antes de retornar à Portugal, ele retirou os últimos centavos dos cofres do Banco do Brasil. 

“A realeza que acabava de viver da corrupção fez um grande saque ao tesouro público”[4].

- “Os fundos atribuídos para manter os diversos setores da indústria e para os trabalhos de utilidade pública desapareceram por uma súbita sangria e muitas coisas iniciadas com a chegada da Corte e das quais nós esperávamos um grande benefício, foram interrompidas.” [5]
“Isso correspondeu a falência, ainda que não declarada”[6].

- “Na prática, o roubo dos recursos do Tesouro tiveram consequências dramáticas para a economia brasileira...”[7]

Deixando o país e seu filho (o futuro Imperador Pedro I) em uma insuperável dificuldade financeira que perdurou por muitos anos e originou uma dívida endêmica. Ainda assim, isso não impedia o amor do filho por seu pai. Obediência de um jovem rei, resignação diante da autoridade ou aceitação dos compromissos de um Príncipe?
Para João VI, a situação estava muito clara: “O que pertence ao Estado, me pertence”. Assim como Louis XIV declarou “O Estado sou eu”. 

Desde então, a maior parte dos governantes saquearam os cofres públicos como se fossem deles mesmos.
Nós sabemos que a corrupção existe em todos os países do mundo. É verdade.
Mas nem todos os povos a consideram como um mal necessário e não dizem:
“Se não forem eles, serão os outros. Tantos se mantém no mesmo lugar, eles já estão servidos.”
Como se houvesse um limite ao roubo... Nem todos os povos tem essa incrível tolerância aos atos de corrupção... Como se a lei do Pai não pudesse ser realmente questionada.

No Brasil, os últimos eventos tiveram um significado próprio à uma rebelião na adolescência. Poderia-se ainda seguir seu crescimento ultrapassando os esquemas calamitosos de sua história.
O Brasil deveria utilizar toda a sua energia de adolescência para desfazer as organizações criminais poderosas que contribuem para a perda da credibilidade do Estado, particularmente da América Latina: Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia.
Os pais perversos nunca são fáceis de derrubar. A Síria passa por uma dolorosa experiência ao custo da vida de sua população.

“A corrupção mata a democracia, pois ela coloca em cheque os fundamentos da República: a igualdade de tratamento, o desinteresse do serviço público, a busca pelo interesse geral” (Michel Sapin)[8]

Françoise DONANT,
Doutora em economia e diretora da Recursimo


[1] Os psicossociónomos utilizam a psicologia e a sociologia em empresas e em países, considerando que essas entidades pensam, sentem e se comportam como indivíduos.
[2] Eric Berne, fundador da análise transacional e autor do livro “O que você diz depois de dizer olá?”
[3] Para o historiador Oliveira Lima, D.João VI foi “o verdadeiro fundador da nacionalidade brasileira” porque ele assegurou lo território e permitiu a uma classe dirigente de se responsabilizar pela construção do novo país”.
[4] Historiador Manuel de Oliveira Lima
[5] Maria Graham
[6] Historiador Pereira da Silva
[7] Laurentino Gomes “1808”
[8] Ministro do Trabalho, do Emprego e do diálogo social desde maio 2012.

mardi 4 février 2014

A INTERCULTURIDADE: UMA AVENTURA DE RELAÇÕES


No contexto de globalização, que facilita as mudanças e trocas entre países,e portanto, entre culturas, a “interculturalidade” aparece como um novo termo da “moda”, cada vez mais e mais presente em nosso vocabulário mas frequentemente desprovido de significado.

             
Photograph by Daniela Ponce, My shot
Quando falamos em interculturalidade, as principais questões esquecem até mesmo a noção de “inter” e de “cultura”: “Então,  você compara os franceses e brasileiros no trabalho, por exemplo?”, “Você compara as diferenças culturais entre os países?” “Você poderia então nos dizer a chave para mudar nosso comportamento com os brasileiros?”

Mas a interculturalidade quer dizer muito mais que isso. Retomemos a definição do Conselho Europeu em 1986: “O uso da palavra interculturalidade implica necessariamente, se nós atribuirmos o prefixo “inter” a sua significação: interação, troca, eliminação de barreiras, reciprocidade e verdadeira solidariedade. Se, ao termo “cultura” reconhecemos todo o seu valor, isso implica o reconhecimento de seus valores, de modos de vida e de representações simbólicas aos quais os seres humanos se referem em suas relações com os outros e em sua concepção do mundo”.

Essa definição nos leva ao conhecimento e reconhecimento do Outro  na sua diferença. A interculturalidade é o querer conhecer o Outro, compreendê-lo ou ainda dar um sentido aos seus comportamentos e não apenas julgá-lo.
A interculturalidade é, antes de tudo, o ato de se questionar sobre sua própria cultura e saber reconhecer de onde vem suas próprias atitudes e reações, assim como sua percepção do mundo. É saber abrir-se para poder se abrir aos outros.


Em um mundo voltado para o materialismo e individualismo, a interculturalidade deveria nos aproximar mais do “ser” do que do “fazer”. Sim, nós nos ensinamos a adotar um comportamento melhor para “construir” boas relações com os brasileiros. E é também frequente a comparação dos franceses e brasileiros ao analisar sua maneira de “fazer” seu quotidiano.

Mas sobretudo nos aproximamos da cultura através da  compreensão e respeito do seu “ser”, como se cada país fosse uma pessoa a parte, com sua estrutura de personalidade, sua história, seus valores, que cada um dos membros de sua família, aqui nos referimos a população, tem um pouco em si. Como uma pessoa, ela evolui, ela amadurece e ela se transforma.

Temos de estar conscientes de que essa pessoa não é perfeita, mas que ela muito nos oferece a oportunidade de crescer, de nos enriquecer, e que se não sentimos imediatamente uma complementariedade com ela, deve-se então buscar a riqueza escondida dessa relação com o Outro, que frequentemente nos remete a nossa própria história. Como uma pessoa, nós podemos amar uma cultura, detestá-la, identificar-se com ela em um dado momento de nossas vidas e nos separarmos.

As culturas são vivas e evoluem através dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos, tanto, que é através de reações emocionais e comportamentais que elas atravessam o curso de nossa história. Todas essas dinâmicas levam consigo uma nova e construtiva visão da relação intercultural.
"Diversity"
 photo and caption by Kaitlyn  Larkin,
NG Constest,2013

“Ser intercultural” é transmitir o sentido da compreensão de uma cultura, poder se colocar na pele do Outro. Não é mudar seu comportamento para se adaptar ao outro, mas transformar a si mesmo, seu olhar, acreditando em nossa capacidade mútua de evoluirmos juntos. 





Amandine PELLIZZARI para Recursimo Consultoria – Especialista de interculturalidade. 
www.recursimo.com
Photos: National Geographic

jeudi 30 janvier 2014

ENQUETE INTERCULTURAL SOBRE O GERENCIAMENTO FRANCO-BRASILEIRO


Na comunidade francesa do Brasil, diz-se cada vez mais e mais que não é muito fácil trabalhar com brasileiros... mas os brasileiros também falam de sua vida no trabalho com os franceses. Para saber mais, a Recursimo, nossa empresa de conselho e de treinamento, realizou uma enquete com quase 400 gerentes franceses e brasileiros: quais são as dificuldades e as riquezas de trabalhar juntos?

Essa enquete foi realizada por correio, de janeiro à março de 2013, respeitando o anonimato das pessoas. A maioria das respostas veio de responsáveis atuando na região do Rio de Janeiro.
O objetivo era de conhecer melhor as necessidades de treinamento para propor soluções adaptadas às dificuldades. Sabemos que em média o custo da expatriação por um salário e uma família é de aproximadamente 300 000 euros por ano para cada empregado. Uma grande perda quando o dito empregado regressa à França após uma expatriação curta e difícil, sem esquecer os custos humanos para cada membro da família e o choque cultural do retorno.

Em nossa enquete, os responsáveis franceses admiraram nos brasileiros a sua boa vontade e o seu desejo de aprender. A maior parte entre eles lamenta algumas falhas que implicam na empresa: falta de fidelidade e também de organização: negligência e esquecimentos, e uma visão de tempo em curto prazo, sem planificação. Contudo, eles estimam qualidades no relacionamento com os brasileiros: gentileza, capacidade de criar um bom ambiente de trabalho, obediência e flexibilidade. O fator cultural que desorienta mais é a dificuldade dos brasileiros de dizerem “não” ou ainda “eu não sei”. Certamente que esses julgamentos dependem das representações de cada um, elas mesmas são sujeitas às origens culturais, valores e experiências profissionais.

Para melhor entender, perguntamos aos gerentes franceses como eles se vêem.
Eles se julgam sérios, eficazes, profissionais e rigorosos, e às vezes “arrogantes e queixosos”. Seu modelo de profissionalismo é a obtenção de resultados pelo respeito de prazos, custos e qualidade. Eles pensam que seu gerenciamento é muito eficaz, ainda que possa ser “autoritário, arcaico e paternalista” e que não se permite obter sempre os resultados desejados. Eles percebem que falta a eles mesmos um treinamento e a uma metade que não sabe como lidar com um estresse relativamente perigoso.

O que nós podemos deduzir?

O circulo vicioso se define como: os fatores de estresse originados dos brasileiros (gestão do tempo, organização,...) sobre os franceses se combinam com a pressão da sede das empresas longe do Brasil, que minimiza ou então ignora as dificuldades culturais. Esse estresse sentido pelas equipes repercute também entre os colegas brasileiros, os quais se sentem agredidos pela pressão das atitudes de passividade ou de evitação, que acentua o estresse dos colegas franceses. Um círculo vicioso que contribui para um constrangimento recíproco.

Os franceses recomendam treinamentos para os brasileiros para ajudá-los a respeitar os prazos, de serem pontuais, mais rigorosos, e capazes de dizerem “não” e etc. Por eles mesmos, eles dizem querer melhorar o gerenciamento de seu estresse e de saber adaptar suas maneiras pois muitos aspiram até mesmo que “bem administrando os brasileiros, pode-se ter uma produtividade maior do que a dos franceses”. De fato, as duas nacionalidades valorizam a riqueza do encontro. Sabendo que as questões culturais são variáveis, pouco flexíveis e pertencentes à identidades coletivas fortes, nos resta apenas transformar o círculo vicioso em círculo virtuoso. Ao viver e trabalhar juntos aprende-se que, como constatamos que a naturalidade e a boa vontade não são sempre o suficiente.

Os brasileiros admiram o profissionalismo dos franceses, os franceses admiram as aptidões para se bem relacionar dos brasileiros, e todos apreciam o prazer de estarem juntos. Conjugar essas disposições para otimizar as relações merece ser trabalhado. Nossa performance não pode ser unicamente técnica, ela depende também de nossa capacidade a saber aprender bem nas relações do cotidiano e de saber gerir as nossas diferenças culturais.

O momento de relaxar: lazeres, esportes, família...como o treinamento em administração intercultural, coaching,  a gestão do tempo e do estresse fazem parte de respostas eficazes, de maneira à confortar aquilo que todos teremos de passar: o prazer de trabalhar juntos, um verdadeiro motor de eficácia.    



Françoise DONANT para RECURSIMO CONSULTORIA INTERCULTURAL

mardi 7 janvier 2014

L'INTERCULTUREL: UNE AVENTURE RELATIONNELLE

Dans notre contexte de mondialisation, qui favorise les déplacements et les échanges entre pays et donc entre cultures, "l'interculturel" a fait son apparition comme le nouveau terme à la mode, de plus en plus présent dans notre vocabulaire mais souvent dénué de sens.


Lorsque nous parlons d'interculturel, les principales questions oublient même la notion  d' « inter » et de « culture »: « Alors vous comparez les français et les brésiliens au travail par exemple? », «  Vous comparez les différences culturelles entre les pays? », « Vous pouvez donc nous donner les clés pour changer notre comportement avec les brésiliens? »

Photograph by Daniela Ponce, My shot
Mais l'interculturel veut dire bien plus que ça. Reprenons la définition du Conseil de 
l´ Europe en 1986 : « L’emploi du mot interculturel implique nécessairement, si on attribue au préfixe « inter » sa pleine signification: interaction, échange, élimination des barrières, réciprocité et véritable solidarité. Si, au terme « culture » on reconnait toute sa valeur, cela implique reconnaissance des valeurs, des modes de vie et des représentations symboliques auxquels les êtres humains se réfèrent dans les relations avec les autres et dans la conception du monde. »

Cette définition nous amène à la connaissance et à la reconnaissance de l´Autre dans sa différence. L´interculturel, c’est vouloir connaître l´Autre, le comprendre ou encore donner du sens à ses comportements et non pas uniquement le juger. L´interculturel, c’est aussi d’abord se questionner sur sa propre culture et savoir reconnaitre d’où viennent ses propres attitudes et réactions ainsi que sa perception du monde.  C'est s'ouvrir sur soi pour pouvoir s'ouvrir aux autres.

Dans un monde qui tend vers le matérialisme et l’individualisme, l’interculturel devrait nous rapprocher davantage de l´« Être » que du « Faire ». Oui, nous enseignons comment adopter un meilleur comportement pour mieux « faire » avec les brésiliens. Il nous arrive aussi souvent de comparer les français et les brésiliens pour ensuite analyser leur façon de « faire » au quotidien. 
Mais surtout nous abordons la culture dans la compréhension et le respect de l’« Être », comme si chaque pays était une personne à part entière, avec sa structure de personnalité, son histoire, ses valeurs, que chacun  des membres de sa famille, ici son peuple, porte en lui. Comme une personne, elle évolue, elle mûrit et se transforme.

C’est être conscient que cette personne n’est pas parfaite, mais qu’elle nous donne beaucoup, nous offre l'occasion de grandir, nous  enrichit, et que si  nous ne comprenons pas tout de suite la complémentarité avec elle, il s'agit de chercher la richesse cachée de cette relation à l'Autre, qui souvent nous renvoie à notre propre histoire. Comme une personne, on peut aimer une culture, la détester, s'identifier à elle à un certain moment de notre vie et s'en séparer lorsque nous ne y retrouvons plus.

"Diversity"
 photo and caption by Kaitlyn  Larkin,
NG Constest,2013
Les cultures sont vivantes et évoluent avec des évènements sociaux, politiques et économiques autant qu’ à travers des réactions émotionnelles et  comportementales qu’elles traversent au cours de leur histoire. Toutes ces dynamiques apportent  une vision nouvelle et constructive de la relation interculturelle.

« Être Interculturel », c’est amener du sens dans la compréhension d’une culture, pouvoir se mettre dans la peau de l´Autre.




Ce n’est pas changer son comportement pour l´adapter à l’Autre mais changer soi-même son regard en faisant confiance à notre capacité mutuelle d’évoluer ensemble.


Amandine PELLIZZARI pour Recursimo Consultoria – Spécialiste de l’ Interculturel